Em um momento da indústria de games no qual os estúdios estão investindo forte em remakes e remasters, mais um título de peso chega para engrossar a lista de clássicos que retornam: Metal Gear Solid Delta: Snake Eater. Lançado para PS5, Xbox Series X|S e PC em 28 de agosto, o novo game é um remake de Metal Gear Solid 3: Snake Eater, que chegou ao mercado em 2004 para o PlayStation 2.
A série Metal Gear é mais uma de tantos jogos e franquias clássicas que “deixei passar” em minha história gamer, que durante os anos 2000 foi dominada pelos jogos de futebol e corrida. Metal Gear Solid Delta: Snake Eater foi minha primeira experiência com um game da franquia e, antes de jogá-lo, conhecia muito pouco sobre o universo de Metal Gear, além do fato de ter sido criado por Hideo Kojima e a principal obra do renomado diretor até a criação de Death Stranding.
Sendo assim, meu olhar para Metal Gear Solid Delta: Snake Eater nesta review foi o de alguém que jogou o game pela primeira vez e está conhecendo a história e a gameplay “com 20 anos de atraso”. Entretanto, como se trata de um remake, fui assistir vídeos de Metal Gear 3 e também pesquisar quais as mudanças mais significativas feitas no jogo de 2025 quando comparado ao original.
A seguir, você confere minha análise do novo Metal Gear para a República DG. A review foi feita com base na versão para Xbox.
Atualizando um clássico
Além de ser meu primeiro contato com a franquia Metal Gear, Metal Gear Solid Delta: Snake Eater também é minha primeira vez jogando um game de Hideo Kojima, ainda que o lendário diretor japonês não tenha participação na produção do novo Metal Gear. Ficou confuso? Então, explico: o remake de 2025 é uma cópia fiel, sem alterações ou adaptações drásticas no enredo e na jogabilidade, de Metal Gear Solid 3: Snake Eater, lançado em 2004.
Sendo assim, ainda que Kojima esteja longe da franquia e da Konami desde 2015, quando rompeu com o estúdio, o conteúdo narrativo e de jogabilidade do novo Metal Gear Solid Delta: Snake Eater é resultado do processo criativo de Kojima e sua equipe, cabendo aos novos produtores fazerem os ajustes necessários.
E o que a Konami e a Virtuos, estúdios responsáveis pelo remake, fizeram foi atualizar os gráficos de um jogo lançado na época do PlayStation 2 para a nova geração de consoles. Refeitos na Unreal Engine 5, os novos gráficos tornaram as cutscenes, marca registrada dos jogos de Kojima, muito mais realistas e cinematográficas, próximas ao que encontramos nos jogos atuais. Destaque para as expressões faciais dos personagens.
O cenário onde se passa o game é uma selva, localizada na antiga União Soviética, que ficou muito mais viva com a atualização gráfica. A iluminação dinâmica entre as copas das árvores, o brilho úmido da vegetação, a densidade da floresta, transmitem a sensação de um ambiente hostil para Snake, o protagonista da história. Temos ainda folhas grudando na roupa de Snake quando ele rasteja, uniforme que suja de lama, água e animais ricos em detalhes que contribuem para a construção de um belo cenário.
Controles antigos x controles modernos
Além dos belos gráficos, a segunda grande alteração que temos em Metal Gear Solid Delta: Snake Eater, quando comparamos ao título original, é a possibilidade de escolher controlar o personagem no “Estilo Novo” ou no “Estilo Original”. No “Estilo Novo”, controlamos Snake como nos jogos de tiro em terceira pessoa lançados atualmente, com câmera por cima do ombro, na qual podemos mirar e atirar com facilidade e precisão. Esse estilo de controle garante uma movimentação muito mais fluida, fazendo com a jogabilidade fique mais suave e agradável aos jogadores.
Se você é um “jogador raiz” e preferir, pode também jogar o novo Metal Gear com os mesmos controles de Metal Gear Solid 3: Snake Eater, como era no PS2, escolhendo controlar o personagem no “Estilo Original”. Nesse estilo, a câmera é apresentada com perspectiva de cima da cabeça e a mira é feita na visão em primeira pessoa. Confesso que testei esse estilo mas não me adaptei, retornando aquele que já estou habituado na maioria dos jogos. Dessa forma, avalio como positivo e um dos pontos altos do remake a Konami deixar o jogador decidir o estilo de gameplay que mais lhe agrada.
Remake ou remaster?
Diferentemente de remakes de sucesso recentes como Resident Evil 2 e Final Fantasy VII, que trazem mudanças significativas em relação aos jogos em que são baseados, os desenvolvedores de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater optaram por um caminho muito mais conservador, deixando a obra original praticamente intacta. Assim, apesar de ser um remake, o novo Metal Gear, na prática, funciona como remaster.
As duas novidades relevantes são os novos gráficos e a possibilidade de escolher jogar no “Estilo Novo” ou no “Estilo Original”. No mais, a gameplay trouxe alguns pequenos ajustes, como botões de atalho no controle para o rádio e a camuflagem. A história e os personagens não sofreram alterações. Inclusive, os diálogos e as vozes são os mesmos do game original. A sequência de cutscenes e gameplay também não mudou.
Os cenários são idênticos. Mais do que isso, inimigos, animais e os itens para serem recolhidos estão exatamente no mesmo lugar que os jogadores veteranos os encontraram em Metal Gear 3. Derrotar inimigos de forma furtiva e mecânicas de sobrevivência continuam presentes. Esses dois pontos abordarei com mais detalhes nos próximos tópicos.
Se por um lado é positivo que a Konami queira manter intacta uma obra tão relevante e impactante como o terceiro jogo da série Metal Gear, existe também o lado negativo em preservar todas as mecânicas originais. Alguns elementos de jogabilidade podem soar ultrapassados, causando desconforto e estranhamento para alguns jogadores. O remake mantém o carregamento entre os cenários, algo comum para jogos lançados no PS2, mas que não acontece mais nos jogos modernos com a evolução tecnológica. As telas de carregamento são frequentes e dividem a selva em mapas pequenos e independentes. A inteligência artificial dos inimigos também se mostra um pouco limitada.
Uma história de traição na época da Guerra Fria
Como mencionei na introdução, essa foi minha primeira vez jogando um título da franquia Metal Gear. E o que me chamou a atenção, desde o início, foram as cutscenes. Longas e muito ricas em narrativa. Repletas de informações fundamentais para entender a história. Me senti assistindo a um filme de ação. Narrativas cinematográficas são uma das marcas dos trabalhos de Hideo Kojima, que é um grande fã de cinema. Poucos games que joguei me passaram a sensação de serem tão ricos em história quanto esse.
Vou fazer um resumo da história para quem não conhece ou queira relembrá-la. Metal Gear Solid Delta: Snake Eater se passa no ano de 1964, na época da Guerra Fria entre os Estados Unidos capitalista e a União Soviética comunista. Um agente da CIA, com codinome de “Naked Snake”, é enviado às florestas da União Soviética para a “Missão Vurtuosa”, que consiste em resgatar Sokolov, um cientista que está desenvolvendo um tanque nuclear e havia desertado para os Estados Unidos.
A missão estava saindo conforme o planejado quando, de repente, Snake se vê traído por sua mentora, The Boss, que revela a ele ter desertado para a União Soviética. The Boss se junta ao coronel soviético Volgin e Sokolov é sequestrado pela Unidade Cobra, um grupo de soldados com habilidades sobre-humanas, liderados por The Boss. Na sequência, Volgin explode o laboratório de Sokolov com uma bomba atômica para encobrir o roubo do Shagohod, tanque nuclear que estava sendo desenvolvido por Sokolov. Snake é então arremessado de cima de uma ponte, ficando gravemente ferido.
Após o incidente ocorrido na floresta soviética, aumenta a tensão entre Estados Unidos e União Soviética, com as duas potências ficando à beira de uma guerra nuclear. Os comunistas culpam os americanos pelo incidente atômico. No entanto, os Estados Unidos recebem uma chance de provar sua inocência e Snake é novamente enviado à selva para realizar a “Operação Snake Eater”. Em sua nova missão, o protagonista terá a tarefa de destruir o tanque nuclear Shogohod e matar a traidora The Boss, para que, que dessa forma, os Estados Unidos sejam isentados de responsabilidade pelo ataque atômico que destruiu o laboratório de Sokolov.
Agindo em silêncio
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater tem um dos sistemas de jogabilidade mais completos que eu já encontrei até hoje. O game foi concebido para ser jogado de forma furtiva, o famoso stealth. Controlando “Naked Snake”, devemos nos mover pelo cenário e atacar os inimigos sem sermos detectados. O protagonista rasteja para se mover sem fazer barulho e conta com um sistema de camuflagem, no qual o jogador escolhe diferentes uniformes e pinturas faciais para Snake usar. Assim, ele pode se esconder no ambiente sem ser detectado pelos soldados soviéticos. O agente da CIA usa uma arma que dispara dardos tranquilizantes para derrotar soldados de maneira furtiva. Também podemos utilizar o combate corpo a corpo para surpreender e derrotar os inimigos.
Se você, como eu, não tem muita paciência para agir de forma furtiva, também é possível jogar no “modo Call of Duty” e matar os inimigos a tiros, visto que Snake encontra várias armas potentes ao longo do jogo. Agir dessa forma fará com que os soldados soviéticos entrem em estado de alerta e abram fogo contra o personagem. Isso pode tornar o jogo mais difícil, dependendo do nível de dificuldade escolhido.
O diferencial do combate na versão remake é, sem dúvida, a possibilidade de controlar Snake com a câmera por cima do ombro, como é padrão dos jogos em terceira pessoa lançados atualmente. Mirar e atirar fica muito mais fácil e agradável quando jogamos com os controles modernos, seja de maneira furtiva ou partindo para o ataque.
Sobrevivendo na selva
Ao contrário de jogos em que a regeneração de vida é simples e exige apenas que o jogador encontre itens para restaurar a saúde, Metal Gear Solid Delta: Snake Eater traz um completo sistema de sobrevivência, impondo que o jogador não só encontre sua comida como mantenha Snake constantemente alimentado, além de cuidar dos ferimentos do personagem.
Durante o jogo, “Naked Snake” deve caçar animais. Também é possível se alimentar encontrando alimentos industrializados e digerindo-os. O protagonista possui uma barra de estamina (localizada logo abaixo da barra de vida) que constantemente se esvazia ao longo do game, dependendo do esforço físico feito. Se Snake não se alimentar, a barra de estamina ficará vazia e alguns efeitos serão sentidos na jogabilidade, como dificuldades para mirar a arma de forma precisa. A barra de estamina cheia é fundamental para o personagem regenerar vida.
Além de se alimentar, Snake precisa cuidar dos ferimentos. A faca é usada para remover balas que atingem seu corpo. O hemostático é usado para estancar sangramentos. A tala imobiliza ossos, enquanto queimaduras são tratadas com pomadas. Ferimentos não tratados podem impactar na regeneração de vida, sendo essencial que o jogador não demore a fazer os tratamentos necessários.
Batalhas memoráveis
Para fechar esta review, queria falar sobre as boss fights de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater. Após ser traído por sua mentora, Snake retorna à selva soviética para cumprir a “Operação Snake Eater” e, no caminho até o objetivo final, terá que enfrentar e derrotar os membros da Unidade Cobra, soldados que têm habilidades sobre-humanas.
Cada inimigo possui uma habilidade diferente e ataca Snake de maneira única, exigindo diferentes estratégias para derrotá-los. The Pain controla um enxame de vespas. The Fear era o “Soldado Aranha”. Tem até luta contra um soldado que já faleceu (The Sorrow).
Mas não tem como deixar de falar da luta contra The End, o “ancião sniper”. E a sacada genial de Kojima para esse chefe é a possibilidade de matá-lo antes de sua boss fight. A primeira é quando ele está na cadeira de rodas, após uma cutscene que mostra os vilões do jogo. A segunda, e ainda mais criativa, é adiantar o relógio do console em alguns dias. Fazendo isso, The End morrerá de velhice.
As batalhas contra os chefes são, na minha opinião, uma das principais qualidades de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater. Foi um dos jogos em que mais me diverti e fiquei satisfeito após derrotar chefes.
Review de Metal Gear Solid Delta: Snake Eater – Vale a Pena?
Depois de jogar pela primeira vez o terceiro jogo da série Metal Gear na versão remake Solid Delta e estabelecer comparações com o título original, minha conclusão é que a Konami acertou ao trazer um jogo tão marcante para os consoles atuais. O game é rico em narrativa e possui uma jogabilidade muito completa, que se diferencia de outros títulos de ação pela quantidade de mecânicas que oferece ao jogador.
Nas principais novidades do remake, a Konami e a Virtuos acertaram em cheio. Os gráficos estão belíssimos, após terem sido refeitos na Unreal Engine 5. As cutscenes lembram cenas de um filme de ação e a ambientação da floresta soviética durante a gameplay está muito bem feita. Outro grande acerto foi disponibilizar uma câmera moderna em terceira pessoa. A jogabilidade ficou mais fácil e agradável, similar a outros jogos de ação e aventura. Se o “Estilo Original” de controle fosse o único disponível, seria bem mais difícil para mim se adaptar ao game. Creio que a maioria dos jogadores atuais teria a mesma dificuldade.
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater tem o objetivo de ser um remake fiel de Metal Gear Solid 3: Snake Eater. A historia e a jogabilidade não sofreram alterações significativas. Apenas ajustes pontuais. Mas, na minha avaliação, os desenvolvedores erraram em serem fiéis demais à obra original de Hideo Kojima.
A história repetida é uma questão menor, visto que a remasterização gráfica foi bem feita. Apenas tira o fator surpresa de quem já conhece a narrativa. O problema está na jogabilidade. O mundo do jogo não foi ampliado. Apenas repaginado graficamente. Senti o cenário muito “pequeno e simples” para um jogo de 2025. Outro fator que chama a atenção são as telas de carregamento, características de jogos lançados no PS2, mantidas nessa versão. Algo incomum para games lançados no PS5 e Xbox Series X|S. O mundo de Metal Gear Solid Delta poderia ter sido ampliado e as telas de carregamento eliminadas, tornando a experiência mais agradável. Fazendo isso, a Konami daria um tom ainda maior de modernidade ao jogo, além dos gráficos e da câmera, sem fazer mudanças bruscas no título original.
Feitas todas as ponderações, vamos tentar responder à pergunta: vale a pena jogar Metal Gear Solid Delta: Snake Eater? Se você é um fã de longa data da franquia e conhece o terceiro game, tenha em mente que vai encontrar o mesmo jogo, só que com melhores gráficos, uma câmera moderna e legendas em português. Se está a fim de mergulhar novamente no universo de Metal Gear Solid 3: Snake Eater, vá em frente.
Se você, como eu, não conhece o game e se interessou pelo remake, também vale muito a pena. A história rica e a gameplay diferenciada de sobrevivência são uma ótima pedida para os fãs de jogos de ação. As boss fights são memoráveis. Apenas esteja ciente que encontrará um jogo projetado originalmente para o PS2. Sendo assim, algumas características na jogabilidade podem soar datadas em 2025.
Para os fãs novatos ou veteranos tenho uma última observação, que considero importante: o preço. Metal Gear Solid Delta: Snake Eater está sendo vendido no mesmo valor de outros AAA inéditos lançados recentemente. Penso que o game não vale esse preço por se tratar de um remake e também por não trazer alterações significativas em sua estrutura. Minha dica é esperar uma promoção. Caso queira comprar, os valores são: R$ 349,90 no Xbox e na Steam e R$ 399,90 no PlayStation.
Metal Gear Solid Delta: Snake Eater acerta ao trazer de volta um clássico dos anos 2000 com gráficos repaginados e controles adaptados para os dias atuais, fazendo com que a experiência de jogar seja mais satisfatória. Entretanto, a Konami erra ao se manter fiel demais à obra original de Hideo Kojima, deixando de fazer alterações que tornariam a gameplay ainda melhor.
Pontos Positivos:
- Narrativa complexa e envolvente;
- Variadas mecânicas de jogabilidade;
- Reconstrução gráfica muito bem feita;
- Introdução da câmera por cima do ombro.
Pontos Negativos:
- Remake fiel demais ao jogo original;
- Cenários não foram ampliados;
- Telas de carregamento entre as áreas foram mantidas;
- Preço elevado para um remake.
- História
- Jogabilidade
- Gráficos
- Desempenho
- Som
