Preciso confessar uma coisa para vocês antes de iniciar este review: eu nunca havia jogado Star Ocean antes de The Divine Force. Sim, a franquia existe há anos e é um dos grandes RPGs da Square Enix, mas eu nunca tinha tocado na série antes.
Então, é com um certo ar de novidade que encaro a série, e confesso que The Divine Force me convenceu a dar chances para outros jogos da franquia. O motivo você confere no review a seguir:
A mistura de fantasia e ficção científica de Star Ocean
Minha experiência com The Divine Force já foi iniciada com certa surpresa com a escolha entre dois protagonistas: Raymond Lawrence, capitão de uma nave de mercadores; e Princesa Laeticia, uma típica princesa de um reino fantástico de RPGs. A história, independente da escolha, segue as mesmas linhas, mas essa escolha mostra de cara o que esperar das 30 horas da campanha: uma interessante mistura entre dois gêneros que, normalmente, se conversam tão pouco.
A história, então, segue a linha geral da perspectiva do protagonista escolhido, com uma pegada um tanto mais de ficção científica com Raymond, que foi minha opção para jogar inteiro o game. De qualquer forma, ambos os protagonistas acabam se unindo nas primeiras horas de jogo, com uma aventura galáctica que em seus primeiros momentos lembra muito os JRPG clássicos de fantasia, até que o escopo começa a aumentar exponencialmente, com conceitos variados sobre ciência e mesmo o contato com divindade em uma interessante dictomia de ideias tão contrárias, normalmente.
O problema é que para mim, um fã do gênero, é fácil ter esperança que o jogo melhore após umas 10 horas, como realmente ocorre, mas para quem for um leigo, essas horas iniciais são extremamente genéricas e podem afastar facilmente jogadores da experiência que é essa jornada – e considerando que a campanha, como disse acima, tem cerca de 30 horas, estamos falando de um terço do jogo que pode ser visto como maçante. Complicado, não?
Mas o fato é que passando essa barreira inicial, mistérios e a tão citada dictomia começam a aparecer cada vez de forma mais evidente, e é difícil não ficar com os olhos colados na TV vendo o que está acontecendo e ansioso pelos próximos desenvolvimentos do jogo – e já tendo passado quase meio-dia com o elenco, é díficil não ter certo apreço pelos personagens, mesmo que algumas decisões em outros campos do jogo ainda possam ser questionáveis, como falaremos a seguir.
A história também se torna extremamente agradável graças ao sistema de voo dado pelo companheiro robótico D.U.MA, que permite que a exploração vá além do mapa terrestre. Sinceramente, ele é uma das coisas mais divertidas do jogo, e ajuda na coleta do principal colecionável, as D.U.M.A. Shards, que melhoram as habilidades do robô e em suas funções de combate, que comentaremos mais a frente.
Porém, só podemos falar da história com tons positivos, já que as Side Quests sofrem o problema comum em JRPG — a questão que elas são muito mais oportunidades para conseguir itens raros do que coisas que realmente mudam o jogo. Honestamente, não conclui todas, mas do que joguei achei elas mais uma encheção de linguiça — algo comum no gênero.
Visuais questionáveis, combate interessante
Embora a história seja boa, existe um certo incômodo com Star Ocean: The Divine Force como um todo: o visual. Embora os ambientes sejam bonitos e inspirados, os personagens são bizarros – utilizando uma estética anime realista que me gerou muito desconforto.
Além disso, personagens femininas, especificamente, sempre estão com um busto enorme, algo que pensava já ter sido superado em senso estético há muito tempo. As primeiras horas do jogo, então, foram de adaptação com esse senso visual um tanto estranho, mas a jogabilidade extremamente divertida foi facilitando o processo.
A jogabilidade em batalhas, em especial, é atrelada a combos de habilidades, que são equipadas nos botões do controle e quando executadas em uma ordem específica realizam buffs ou mesmo aumento no poder dos personagens. Me lembrou muito a série Tales of, da Bandai Namco, e considerando que Tales of Arise é um dos meus jogos favoritos dos últimos anos, isso é um ótimo sinal.
Além dos combos, temos o sistema de AP, em que cada movimento executado pelos personagens consome uma parte da barra e, quando esvaziada, é necessário ficar aguardando ela se preencher um pouco para que se recupere — colocando uma certa estratégia nos combates, já que gastar tudo de uma vez pode ser prejudicial a longo prazo, com os bonecos só apanhando.
Existem formas, porém, de aumentar essa AP — como engajar inimigos de forma que eles são surpreendidos, atividade alcançada graças ao D.U.M.A, que também pode ser usado de forma a lançar os protagonistas em inimigos para que eles não tenham chance de reagir, além de com a mêcanica de blindisde também poder apresentar buffs para a party e debuffs para os inimigos — embora eu tenha achado ela um pouco complicada de ser executada, já que envolve uma curva bem fechada logo em cima do inimigo, para que ele não enxergue sua arma encostando e iniciando o combate.
O sistema de AP também permite a transferência de barras extras adquiridas pelos métodos acimas para outros personagens durante o combate. É um sistema bem engajante e que junto dos combos faz o combate ficar interessante, embora o aprendizado completo pode demorar um tempo, principalmente com as várias tentativas e erros que tive que fazer até entender 1005 seu funcionamento.
Todos os personagens da party também contam com estilos de combate específico, então achar que por estar dominando Ray os outros bonecos terão uma jogabilidade parecida — sendo necessário pelo menos identificar o combo de cada um dos integrantes da party e não deixá-los sem customização, ou então as lutas poderão ser um pouco mais difíceis. Porém, graças ao botão de Stop, em que a luta inteira é paralisada para o jogador poder observar melhor o ambiente, isso acaba sendo facilmente adaptável, com uma curva de aprendizado um tanto menor do que o sistema AP.
Ao mesmo tempo, jogando na dificuldade básica do jogo, eu não senti que os sistemas foram explorados em sua plenitude, com as lutas contra chefes dificilmente me dando problemas – claro que eu também não procurei aumentar a dificuldade do jogo, mas o básico funcionou suficientemente bem para concluir a campanha.
Conclusão
Star Ocean: The Divine Force é repleto de altos e baixos que andam juntos e fazem uma experiência suficientemente satisfatória, e que pelo menos para mim, serviu como uma forma de me interessar pela franquia.
Não citado no corpo principal do review, mas também importante, é o robusto sistema de criação de itens, em que a partir de sete doutrinas diferentes e utilizando os talentos específicos de cada personagem, é possível criar desde consumíveis até equipamentos de batalha melhores — e é simplesmente importantíssimo no jogo, com boa parte da progressão de status sendo executados por ela em vez de comprar itens em shoppings espalhados pelo mundo.
Essa mêcanica só mostra como o jogo é rico em sistemas, mas ainda sim é suficientemente complexa para novatos no gênero — não é fácil de entender como ela funciona, e até dar resultados positivos o suficiente, é possível que quem não tem experiência com RPG se sinta exausto ou frustrado.
Clom tudo isso, embora gostando do jogo, saio me perguntando quanto isso pode ser bom para novatos no gênero, mas de qualquer forma o jogo já é nichado, então talvez esses questionamentos sejam um tanto inúteis. De qualquer forma, ele é um jogo bem interessante, e que me agradou muito.