Voice of Cards: The Isle Dragon Roars foi uma interessante surpresa da Square Enix no final do ano passado, trazendo uma interpretação bem única de RPGs junto de jogos de carta, tudo sobre a batuta de Yoko Taro.
Mais surpreendente, porém, é o fato que uma sequência foi lançada tão pouco tempo depois. Voice of Cards: The Forsaken Maiden chegou semana passada para todos os consoles no mercado, e embora não vá mudar a opinião de quem não gostou do primeiro, ainda é um título bem interessante.
O estranho conforto das cartas em Voice of Cards
Todos os elementos de Forsaken Maiden trabalham em conjunto para criar uma experiência confortável ao jogador. Logo nos primeiros momentos do jogo, ele nos introduz a um narrador simpático, que constantemente conversa com quem está vivenciando a obra em um tom leve, mesmo nos momentos mais sérios.
O narrador desde o começo também é acompanhado por uma trilha sonora que remete muito aos momentos mais calmos de Nier, e de certa forma consegue passar a sensação que realmente se trata de uma viagem maritima – o tema principal do jogo.
E é nessa jornada maritima na busca do segredo de Laty, a companhaira do protagonista Barren, percorrendo um arquipelago, que o jogo vai mantendo os momentos calmos – mesmo em batalhas. Seja na movimentação pelo tabuleiro cheio de cartas viradas pra baixo ou mesmo na descoberta de seus efeitos – como ser uma floresta com inimigos ou uma nova vila para explorar, Forsaken Maiden parece a todo momento querer o conforto do jogador.
Momentos sombrios também em Voice of Cards
E todo esse conforto é um dos possíveis motivos que faz com que a narrativa, ao chegar em seus momentos mais sombrios, consigam chocar o jogador — mesmo sendo tudo falado pelo narrador.
O narrador, que dentro do jogo assume o papel de Game Master, quase como um mestre de RPG, é responsável por absolutamente todas as interações com voz do jogo, e em uma mudança bem interessante em relação ao primeiro título, se comunica mais com o jogador fora da narrativa, sendo muito mais um personagem externo do game do que um self-insert como no game anterior.
Essa relação de amizade e carinho possibilitada pelo novo estilo de narração faz com que os momentos mais tensos da trama batam de forma bem mais forte, mesmo com o mestre mantendo seu tom jocoso durante todo o percorrer do título. É uma estranha dissonância, mas que talvez tenha sido uma das coisas que mais me pegou em Forsaken Maiden.
Exploração clássica de várias formas
A exploração em Forsaken Maiden talvez seja a parte mais complicada de se falar, já que nem no papel ela soa como algo muito empolgante. Basicamente, em um tabuleiro com várias cartas espalhadas, o jogador controla um peão que tem liberdade total de movimentação – porém, cada cartão é aberto ao passo que a peça repousa nele.
A abertura das cartas pode gerar diversos eventos, desde batalhas até descobertas de passagens secretas ou armadilhas – com todos os efeitos e consequências sendo apresentados pelo narrador. Isso, no começo do jogo, cria uma estrutura interessante de descoberta, mas algumas horas depois começa a gerar desânimo, já que não existe uma variação tão grande de ocorrências para manter o jogador suficientemente entretetido.
Para interessados em RPG bem clássicos e também que gostaram do primeiro título, isso não será um grande problema, já que é algo que se repete em relação a ele. Mas para quem pular de para-quedas nesse ou não tenha gostado de Isle Dragon Roar, ´nada aqui irá modificar a opinião.
Conclusão
Voice of Cards: The Forsaken Maiden tem pontos excelentes, como a imersão a partir do narrador, e outros bem fracos, como a progressão e exploração do mundo, criando uma experiência que, de perto, parece algo inconstante e de longe pode parecer extremamente não-atraente.
Mas ao mesmo tempo isso me lembra a recepção do Nier original lá em 2010, em que para alguns ele se tornou uma obra prima e para outros era algo extremamente maçante – sendo que hoje, 13 anos depois, somente uma dessas opiniões prevalece.
Talvez Forsaken Maiden passe pelo mesmo processo — o que torne a minha nota para o título um tanto quanto curiosa daqui uns anos.
PS: Review feito da versão de PS4 do jogo através de uma chave cedida pela Square Enix.