Logo na primeira vez que eu me deparei com Open Roads, eu fiquei maravilhado. O que me despertou a atenção em primeiro lugar foi o fato de que o jogo seria publicado pela Annapurna Interactive, publisher com uma curadoria excelente e com títulos que geram boas reflexões.
Em segundo lugar, pela dupla de protagonistas interpretadas por Keri Russel e Kaitlyn Denver, duas atrizes de ponta que já participaram de grandes obras como The Americans e Temporário 12. Em terceiro lugar, a proposta da história. Acompanhamos uma mãe e uma família em uma viagem de fim de semana para investigar um mistério geracional de família.
Por fim, mas não menos importante: o estilo artístico escolhido pela The Open Roads Team, estúdio responsável por liderar o projeto. A direção de arte mescla efeitos 2D e 3D, gerando uma sensação peculiar de que estamos jogando uma aquarela animada. Com o hype estabelecido, chegou o momento de finalmente jogar a obra.
Será que a espera valeu a pena? É isso que você vai descobrir nesse review de Open Roads.
Casos de Família
Preciso começar esse review constatando uma coisa: Open Roads é praticamente um filme interativo. O jogo dura no máximo 2 horas, isso para fazer o 100%, logo, não entrarei de modo profundo nos detalhes da trama. Por se tratar de um jogo puramente narrativo, falar em detalhes sobre aspectos da narrativa estragaria a experiência de quem pretende dar uma chance ao game.
Abordando por cima, Open Roads é sobre Opala e Tess. Mãe e filha que se veem em uma situação caótica. Elas estavam cuidando da mãe de Opala, contudo, a senhora veio a falecer e as duas perderam a casa. É diante desse contexto que Tess, uma adolescente bem inquisitiva, acaba se deparando com um mistério de família e chama sua mãe para fazer uma viagem com o intuito de investigar o mistério.
É a partir desse ponto que a história se desenvolve e toma desdobramentos completamente inesperados. A equipe, com um elevado grau de experiência vindo de títulos como Gone Home e Tacoma, são mestres em mergulhar o jogador na ambientação e no principal: os personagens.
Apesar da curta duração, você sente empatia e é teletransportado para o universo de Open Roads graças à escrita dos personagens. Só chegamos a interagir com o pai de Tess e com sua amiga Francine por mensagens de texto mas os diálogos e a construção deles é tão real que chega assusta.
Por falar em assustar, é mágico ver o que a Open Roads Team conseguiu estruturar em tão pouco tempo. Tess e Opal possuem diversas camadas e mergulhamos na personalidade delas enquanto a trama se desenvolve. Tess age como uma típica adolescente, cheia de si e com centenas de perguntas sobre praticamente tudo. Contudo, ao mesmo tempo que ela exala um ar confiante, ela se mostra vulnerável, sofrendo pela ausência do pai e pela falta de apoio da mãe.
O mesmo acontece com Opal. Olhando superficialmente, vemos uma mãe capaz de resolver todos os problemas do mundo. Mas na medida que a história se desenlaça, percebemos uma mulher gentil com muitas marcas de sofrimento e que apesar da vida difícil, continua lutando pelo seu sonho.
No fim, o mistério é desvendado e a verdade é bem decepcionante, mas o sorriso no rosto permanece. Open Roads não é sobre o fim da jornada e sim sobre os caminhos que levam até o final dela.
Ousadia pra vencer
Em meio a tantos projetos comerciais, Open Roads segue uma via contrária. Ele é um projeto que transpira a parte artística e isso pode acabar afastando a maior parcela de jogadores. O game se trata de um jogo sobre pessoas normais fazendo coisas normais. E é compreensível que não é isso que a vasta maioria dos jogadores buscam em um game.
A história é excelente, assim como as atuações de Keri Russel e Kaitlyn Denver, impulsionadas pela direção de arte primorosa que lembra quadros. Mas os pontos fortes da narrativa são igualmente os pontos fracos. Se você não gosta da proposta, dificilmente vai encontrar algo proveitoso em Open Roads. O jogo foi estruturado como um walking simulator. Ele até tem suporte com o DualSense mas nada fora de curva que cause impacto.
Apenas aqueles que se dispõem à se importar com Tess e Opal irão desfrutar dessa experiência. É uma decisão muito arriscada do estúdio mas acredito ser algo que precisa acontecer mais vezes. São projetos como esse que impulsionam a indústria e revitalizam a mesma.
Review de Open Roads: Vale a pena?
Open Roads dialoga com o jogador de muitas formas e em dezenas de vezes questionei pra mim mesmo o quanto eu não sei sobre as pessoas que eu amo. Como foi a juventude de minha mãe? Ela realizou os sonhos dela? Minha avó foi feliz? Frequentemente seguimos nossas vidas sem ligar muito para essas questões sobre quem veio antes e o jogo serve como um lembrete vital do quanto é fundamental se importar.
Se você adora pessoas e os fios que as unem (e separam), deixo a minha recomendação. Jogar Open Roads é uma experiência e tanto. Contudo, pela curtíssima duração, se você possuir apenas um PS4/PS5, recomendo aguardar uma promoção. O jogo está custando R$99,50 na PS Store brasileira, valor bem salgado para a quantidade de conteúdo fornecida.
Com atuações impecáveis, personagens muito bem construídos e diálogos poderosos, Open Roads é um ótimo jogo criado para um nicho bem específico.
- Narrativa
- Jogabilidade
- Visuais
- Desempenho
- Som