Review: Mafia – The Old Country (PS5 Pro)

 Eu preciso começar esse review fazendo uma revelação importante para o seu entendimento do texto e – principalmente – dos meus sentimentos e histórico em relação à franquia Mafia.

Ela é uma das minhas prediletas e, pra mim, Mafia 2 tem uma das melhores histórias do jogo. Vito Scaletta é um personagem atemporal. Com essa breve contextualização, você deve conseguir imaginar o quanto eu fiquei feliz com o anúncio de Mafia: The Old Country.

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Um jogo que não só resgata a essência da franquia, perdida com a história de Lincoln, como aprimora os aspectos narrativos, fazendo o jogador mergulhar em todos os códigos que permeiam a máfia e, claro, na cultura e no contexto histórico da Sicília na época.

Neste review de Mafia: The Old Country você vai descobrir por que eu classifico o trabalho da Hangar 13 como fantástico e por que eu acho o jogo perfeito para o momento atual da indústria.

Um brinde à família

Na aventura controlamos Enzo, um garoto que acaba sendo vendido pelo próprio pai e passa anos crescendo em uma mina de enxofre. Esssas minas eram um recurso valioso da Sícilia e é interessante ver uma representação histórica realista disso. Na época, a região mais parecia o Velho Oeste e a falta de ordem era evidente.

Sem uma família para guiá-lo, Enzo acaba aprendendo com as ruas. Esse conhecimento transforma Enzo em uma ferramenta valiosa para a família Torrisi. De repente, o garoto que foi vendido para as minas pelo pai, acaba conquistando renome.

Mafia: The Old Country não esconde seu foco em narrativa em nenhum momento. Com início, meio e fim, a equipe de roteiristas fez o possível para que o jogador se mantenha ativo e interessado na trama. Isso resulta em uma campanha de 10 a 12 horas para ser concluída. O ritmo é bom, com vários trechos que lembram um ótimo filme de ação.

A Hangar 13 decidiu seguir a cartilha completa de uma história sobre a Cosa Nostra e, por isso, os desdobramentos da campanha podem ser óbvios para fãs do gênero. Mas, ao meu ver, isso não tira o brilho da proposta. Os dramas do protagonista e dos personagens secundários são bem explorados, preenchendo lacunas enquanto o jogo fornece uma espécie de aula de história sobre como era a vida e a cultura na Itália daquela época.

A experiência é elevada graças aos diálogos no idioma siciliano. É como se a Hangar 13 listasse tudo que ela sabe fazer com uma qualidade ótima pra cima e decidisse focar especialmente nisso.

O embate dos empresários com os sindicalistas, o caos espalhado pelos anarquistas, os problemas da Cosa Costra em si.. O estúdio fez um ótimo trabalho de pesquisa histórica e o resultado disso é perceptível em cada missão da história.

Faca, pólvora e fé

A jogabilidade de Mafia: The Old Country segue a mesma linha do remake do primeiro e a do segundo jogo. A ambientação, nos anos 1900 em Sicília, é um ponto determinante para a jogabilidade.

Enzo, o protagonista, faz uso de armas clássicas da época para despachar os inimigos. Espingardas, rifles e pistolas são alguns dos armamentos disponíveis. Por serem de época, o funcionamento dessas armas é meio bruto, entregando uma experiência autêntica. Você não está atirando com uma M4A1 cheia de acoplamentos modernos. Apesar do funcionamento “vintage”, o gunplay é prazeroso e ter jogado no Difícil ajudou bastante a achar o jogo divertido. O nível de desafio é generoso e exige posicionamento tático e planejamento.

Quando não estamos batendo de frente com os adversários da família que abraçou Enzo, estamos abatendo eles de maneira furtiva. Podemos sufocar os inimigos chegando sorrateiramente neles ou usar uma faca para acionar finalizações brutais. Ao sufocar os inimigos, um minigame de resistência aparece na tela, fazendo com que o jogador fique presente no momento. Eu gostei desse toque por que na maioria dos jogos, os abates furtivos são uma cutscene que não exige ação do jogador, você pressiona um único botão e pronto.

Aqui, como existe o minigame, o risco de ser detectado é maior, o que ajuda a aumentar a adrenalina de certos trechos da campanha. Curiosamente, cada tipo de faca do jogo apresenta um nível diferente de fio/durabilidade que limita a quantidade de vezes que podemos usar essas finalizações ou usar a faca para arrombar fechaduras.

Um ponto negativo é que mesmo no Difícil, a IA não é muito inteligente e o nível de percepção dos adversários é baixíssimo, o que facilita as seções furtivas obrigatórias.

Mafia obviamente não é um RPG mas podemos equipar Enzo com facas de diferentes tipos e efeitos, além de medalhões e contas. Os medalhões possuem efeitos diferentes, assim como as contas. Um desses efeitos por exemplo é abafar o som dos passos do personagem, algo bem útil para quem adora jogar como um fantasma.

A equipe não quis fazer os jogadores terem que gastar tempo gerenciando coisas. Não é esse tipo de jogo. O propósito de Mafia é contar uma história e ele acerta em cheio nisso.

Uma das novidades na franquia são as “batalhas contra chefes”. Esses conflitos de um contra um transformam o jogo em uma espécie de game de luta, se ele fosse focado em embates de facas entre mafiosos. O sistema funciona bem e o leque de opções é amplo. Podemos cortar, perfurar, desviar, bloquear e até aparar. Mesmo no modo difícil as batalhas são justas e premiam a estratégia e cautela.

Outro ponto negativo e que me incomodou bastante é a presença constante de “paredes” camufladas no trecho de mundo aberto. Os arbustos, árvores e outros elementos das pistas servem como um limite invísivel servindo para ilustrar até onde você pode ir. Isso torna a dirigibilidade bem engessada. O jogo praticamente nos força à se manter nas estradas. Foram várias vezes que tive que percorrer distâncias enormes por conta desses arbustos e árvores que limitam o cenário.

Uma Sicília de respeito

As chaves de PlayStation 5 de Mafia: The Old Country demoraram pra chegar, o que causou aquela histeria padrão onde os jogadores começam a cogitar problemas com a versão. Para a minha felicidade, encontrei um jogo em um ótimo estado – ótimo mas não perfeito.

Não tive nenhum bug ou glitch nas missões. Tudo funcionou perfeitamente bem e também não notei quedas de frame. O único problema perceptível, isso jogando no PS5 Pro e no modo qualidade, é que as texturas ficam carregando com frequência, gerando alterações evidentes nos cenários.

No mais, a Hangar 13 fez um trabalho excelente com a Unreal Engine 5, entregando uma Sicília cheia de charme, bem iluminada, com personagens cativantes, um dia a dia realista e uma parte sonora sublime. Eu experimentei o jogo inteiro com o idioma siciliano ativado e foi a melhor decisão que poderia ter tomado.

As expressões estão ótimas, assim como a sincronia labial. A imersão atinge um patamar muito acima do que eu esperava. A trilha sonora também lembra filmes clássicos da temática que marcaram minha adolescência, como o clássico O Poderoso Chefão, Era uma Vez na América, Caminhos Perigosos e mais.

Isso é reforçado pela direção de cutscenes primorosa que serve quase como uma homenagem para esses filmes que marcaram o gênero. Bravo, Hangar! O som, combinado com os visuais belíssimos proporcionados pela Unreal Engine 5, transportam o jogador com facilidade para a Sicília da Hangar 13 e, no final da experiência, a vontade é de imediatamente comprar uma passagem para a Itália!

Review de Mafia: The Old Country – Um belo acerto

A Hangar 13 construiu uma obra fantástica que respeita não somente o legado que a IP carrega, mas, principalmente, o tempo e o dinheiro do jogador. Tudo no jogo tem propósito, identidade e ajuda na imersão em uma das jornadas mais memoráveis dentro da temática que aborda Dons, família, sacrifício e todos os clichês que permeiam essa temática.

Os personagens, desde Enzo, o protagonista, até os secundários, como Cesare e Luca, são cheios de identidade e muito bem escritos. Seus diálogos, motivações e comportamentos muitas vezes perpassam a barreira do virtual.

Se você gosta de jogos narrativos, com personagens memoráveis e doses cavalares de ação, com trechos cinematográficos, nem pense duas vezes. A Hangar 13 fez o jogo perfeito pra você!